Eu embarco na esteira da lembrança
Para viajar com destino ao passado,
E só desço na estação multicolorida
Na bagagem, sonhos que eram dourados;
Nas páginas geladas do inverno
A Natureza escrevia a composição,
Da geada sem fazer uso de linha
O seu almaço, era a paisagem do chão;
E para fugir do frio eu recorria
Me aquentava na taipa do fogão!
Na despensa do rancho, eis a fartura
Queijo curado, lingüiça, carne enlatada,
Frita no tacho ao fogo de graveto
E no terreiro, o bando da galinhada;
Que alongava na capoeira pra aninhar
E punhava os ovos dando trabalho,
Pois a mãe me encarregava de procurar
Por eu saber da quiçassa até os atalhos;
Assim com o eu conhecia na palhada
Cada pássaro que gorjeava nos galhos!
No quintal, um jardim, tendo a roseira
Como rainha das plantas ornamentais,
E em seguida um pomar com variedades
Colher a fruta no pé era bom demais;
No derredor da cabana, alguns abrigos
Pros animais que eram chamados de criação,
E ao lado do paiol, ficava a tulha
Acoplada com o quadrado do terreirão;
Onde era secado o café em cereja
E quando vazio servia para a dança de salão!
Parece que vejo o carreador do sítio
Onde as rolinhas brincavam no areião,
E as trilhas do gado na invernada
Feito um mapa indicando pro ribeirão;
Que saudade da chaminé, torre da palhoça
Esfumaçando no campear do entardecer,
E da tarimba munida a colchão de palha
Como era doce sonhar para sobreviver;
Quando eu volto dessa viagem só não choro
Porque ainda tenho este mundo no meu ser!
Sávio Estrela
Alex Sávio
Jundiaí – São Paulo