Nessas linhas que eu vou rabiscar desenhando as palavras
Eu quero falar de um pai que teve a figura ultrajada,
Dois terços da sua vida, ele ouviu sempre calado
Uma forma de humilhação, pejorativa e desclassificada;
Um deslize da companheira, arruinou com o seu nome
O pecado não era dele, mas ele soube ser um cristão,
Não pôs mais peso na cruz, de quem ele amava tanto
E estava no degrau mais alto do pódium do seu coração!
“O ninho do Tico-Tico”, assim chamavam a sua família
Por ter um filho bastardo, fruto de um Chupim aventureiro,
Mas ele tratava o mesmo, com a mesma dedicação paterna
Podia não ter seu sangue, mas do seu amor ele era herdeiro;
O convívio com os demais, tinha um cunho de rejeição
Mas aceitavam porque ele, agia qual um pastor que queria,
O seu rebanho reunido, como grãos da mesma espiga
Estrela da constelação, que ornava o páramo dos seus dias!
Mas aquele senhor moldado pelo cinzel de tantas provações
Tombou feito o velho ipê e em seu leito de sofrimento,
Perfilhou a testificação, que lhe serviu como um tesouro
O único ouro que não era boreal no brilho dos sentimentos;
No estertor do seu tempo, na cabeceira de sua cama
Aquele que era espúrio estava presente a todo momento,
Velava por este homem que lhe assumiu sem cobrança
Se a alma tivesse pauta, ele estaria inscrito no testamento!
E quando fechou os olhos, os seus filhos verdadeiros
Não choraram um por cento, do pranto que ele derramou,
Mostrou que no peito, havia um cantinho para guardar
A memória de quem foi mais que um pai, pois lhe criou;
Fica a lição para todos, de que às vezes quem semeia
Não está preparado para cultivar o que vir a nascer,
Mas DEUS forja no ser, o dom maior que possa existir –
Cuidar do trigo humano, no meio do joio a florir –
Torná-lo pão para que o céu, um dia possa lhe receber!
Escrito por:
Savio Estrela
Alex Savio
Jundiaí – São Paulo